Maurício de Sousa – Hoje é uma maquininha. Bem azeitada, com bons profissionais, que já beberam tudo que precisavam ou podiam no nosso histórico e depois saíram por aí já devidamente fertilizados. Eles mandam as histórias para mim hoje, e eu vejo todas. Hoje por exemplo foi uma noite de ver roteiros, quando vi já estava amanhecendo. Quando estou vendo roteiro, não vejo o tempo passar. E tudo é novidade ou desafio, ou até uma busca crítica. Eu tenho que ver duas vezes a história: como leitor e depois nas entranhas, como está passada a mensagem. Fazer uma correção, uma orientação. E isso tem acontecido mais ou menos com facilidade, depois desse processo. O estúdio, a parte de produção, é dirigido pela minha mulher. Ela vê a arte final, cores. [Depois] eu vejo a revista pronta. De vez em quando, puxo a orelha dela, ela detesta! [...].
G1 – Tem alguma espécie de veto? Você aprova as histórias?
Maurício de Sousa – Não pode matar ninguém e não pode ter sacanagem
G1 – O que seria?
Maurício de Sousa – Algum tipo de malícia que a criançada nem vai entender ou alguém vai explicar de uma maneira errada. Então, a gente dá uma suavizada em qualquer papo que tenha algum tipo de malícia, principalmente de ordem sexual. E, logicamente, comportamento. Ou orientação ética, moral, comportamental.
[...]
G1 – Qual a importância de se criar personagens como, por exemplo, aqueles com necessidades especiais?
Maurício de Sousa – Nem que não houvesse necessidade, ou movimentos para inclusão. Isto foi uma falha minha desde o começo: eu me esqueci de colocar nas minhas histórias, quando na minha infância cansei de conviver com amiguinhos com necessidades especiais. Brincava normalmente. E, logicamente, a gente zoava. E também eles nos zoavam. Depois, vi movimentos de inclusão e falei: “Estou atrasado nisso”. Eu fui buscar, mas estudei bastante. Porque, querendo ou não, a gente traz dos velhos tempos alguns tipos de preconceito – você nem sabe que é preconceituoso. Aí, fui a institutos. Fui falar com os atletas paraolímpicos. Falei com o Herbert Vianna. Com o pessoal que superou esse tipo de problema, e fomos aprendendo.
G1 – A “Turma da Mônica Jovem” foi uma necessidade autoimposta ou uma demanda que surgiu?
Maurício de Sousa – Foi estratégico, lógico. Resolvi criar a Turma, aumentando a idade, as personagens, com o visual de um mangá. Criei um “mangá caboclo” aí. No começo, eu não tinha pensado em fazer mangá. O número zero da “Jovem” é um desenho normal, não tinha nada de mangá. Mas caí na observação de que a turma estava se bandeando muito para o mangá mesmo. Então, mudei o esquema. E foi fácil para a nossa equipe, todos também estavam curtindo, eram desenhistas jovens. É nossa revista mais vendida – aliás, é a mais vendida no ocidente. A gente só perde pra umas revistas japonesas meio malucas.
G1 – E o Chico Bento jovem, vai ser feito?
Maurício de Sousa – Vem aí, já estamos desenhado, os primeiros dois números estão criados. No primeiro, eu estava pensando em fazer uma história muito engajada em ecologia, mas dei uma segurada. O Chico Bento jovem vai ser um pouquinho mais velho do que a Turma da Mônica jovem, ele já tem 18 anos, já é universitário. Vai se formar em agronomia, lógico. A Rosinha vai ser veterinária. Vai ser uma história gostosa, com bastante humor.
G1 – Quando vai sair?
Maurício de Sousa – Em abril.
G1 – Hoje, há uma preocupação maior com os produtos culturais para que eles sejam politicamente corretos. Isso já chateou de algum modo? Já teve muita patrulha recente ou mesmo em décadas anteriores pelo fato de o Cascão não tomar banho, Cebolinha falar errado...?
Maurício de Sousa – No meu entender, a patrulha passa lá pela rua. No meu estúdio, ela não entra. O patrulhamento, às vezes burro, esquece como é que é o ser humano, como é que é a criança, quais as necessidades psicológicas da pessoa. E eu faço do meu jeito. Logicamente, já nos últimos anos muitos dos nossos hábitos foram transformados pela conscientização. Não porque há uma lei tomando conta da gente.